uma vez me disseram que certas pessoas sofrem até quando são felizes. é uma daquelas frases que a gente escuta e repete dentro da cabeça depois, como se tivesse apertado um botão. quem disse foi um centenário, o que deu ainda mais credibilidade. o estado de insatisfação plena é um monstro de dentes afiados, folgado, corrosivo, que se instala no menor canto da alma, se a gente permitir, e se alimenta do que temos. a vida é linda. não é sempre, mas é quando dá para ser. e basta. às vezes é preciso dançar na tempestade, chorar no sol ou apenas dormir um pouco mais.
O hoje acaba, feliz ou não. Não dá para se escravizar, se acorrentar a essa condição. Falam muito sobre a perseguição da felicidade. A gente se ocupa tanto em procurar que corre o risco de não ver quando achar. Do que adianta persegui-la, se você não consegue percebê-la, vivê-la? Olhar a própria história com olhos ávidos é sabedoria. Saborear o momento feliz, se entregar a ele e guardar as sobras para depois também.
Dá para ser feliz durante o Jornal Nacional, quando passa uma criança sorrindo fundo por conta de um banho de mar. É possível ser feliz dentro do ônibus, quando toca sua música preferida. Quando se descobre um lugar novo, ainda que seja o velho, visto com olhos renovados. Se alguém te traz um chocolate no meio da tarde. No dia em que você pôde ajudar um amigo que precisava de um colo, carinho, palavra. Quando você chora de emoção. E até, simplesmente, quando se deita na cama e entende que nada de mau te aconteceu e você ganhou mais um dia por aqui.
É questão de não apagar o brilho das lembranças, aprender sempre que possível, sofrer o inevitável, secar o rosto e caminhar enquanto existir estrada.
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