Você beija. Abre a boca para a vida de outra pessoa entrar. Permite que o outro se faça presente em você, que roube e devolva intimidade, tudo ao mesmo tempo. Deixa que explorem o que você não mostra, o que você não diz para mais ninguém. Deixa que teu sangue bombeie no peito de alguém. Chora como se a lágrima fosse de morte e nada se repetisse nessa vida que de tão cruel que é acaba. E antes de acabar se esforça para não fazer sentido. A gente vive para aprender a aceitar que acaba: o amor acaba, a fase, o jogo, a amizade, dinheiro, prazer, comida, a vida, enfim. E a gente sofre. E fim.
Uma vez dentro de você, aquela presença jamais sairá. Uma gíria que você usa, um medo que você tem, a forma de arrumar o cabelo, o lado de deitar na cama, algo que você gosta de comer, a sua música preferida ou a música que te faz lembrar algo ou alguém. O gosto da sua boca não será o mesmo. Agora, você cheira diferente e o calor do seu corpo se perdeu pelo caminho. Não está, definitivamente, nos olhos de quem te cumprimenta com um sorriso tímido no corredor. Antes, sem roupas na cama. Rindo do azar de quem não era nem eu nem você. Agora, cobertos de pudor, como se jamais tivessem se permitido morar um no outro. Vocês já não se lembram.
Para quem você entregou como presente enfeitado com laço de fita uma parte de você? Não cabe em casa, não encaixa em canto nenhum, o que o amor deixa para trás quando vai embora. Quando se da conta, a gente acorda em outra vida, em outro corpo, sem entender como as horas correram tão rápido e o tempo começou a apostar corrida contra nós mesmos. Quando você acorda, o amor mudou de casa, de endereço, de roupa, de cheiro, de vida. O amor mudou (de) você.
Um comentário:
que lindo, Leilane... morri lendo!
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