A garota no meio da festa esbarra em um rapaz e toma a bebida dele. Em seguida, convida a amiga -- com quem tem um tipo de caso amoroso -- para um encontro a três com o tal rapaz. No meio da transa, a garota que fez o convite passa mal, sai da cabana na praia e morre de overdose. Os outros dois, os que sobraram, desenvolvem uma história de amor. Têm um filho juntos e dividem a trajetória complicada de toda uma vida. São cenas do filme Paraísos Artificiais (do qual eu esperava muito pouco e extrai muito).
O filme tem sexo, drogas (algo que não me interessa e que não aceita justificativas, a meu ver), raves, música eletrônica e, no fundo, é todo a respeito de encontros e desencontros e de como eles tecem uma teia de destinos. São bilhões de pessoas no mundo. O que faz com que você me encontre e eu encontre você? O que determina que eu passe por aquela rua, naquele horário e veja você e não o cara ao seu lado. Gasta-se tempo demais planejando acontecimentos que são forças da natureza.
Há quem chame de Deus, destino, espírito do além e até de karma. Eu chamo de escolha. Ir para a direita ou para a esquerda. Viajar para Alemanha ou Paris, praia ou montanha. Sair de casa ou assistir televisão no sábado à noite. A cada vez que se abre os olhos, quando você atravessa a rua ou escolhe o lugar onde vai almoçar, tudo determina o futuro, até o que você deixa de fazer.
O jogo é feito de possibilidades inesgotáveis de ser ou não ser feliz. Os números que você marca no cartão da Mega Sena, a escada pela qual escolhe descer no shopping. Se entrar no elevador, nada acontecerá. Se escolher a escada, vai tropeçar, quebrar o tornozelo e conhecer o grande amor de sua vida, um homem ou mulher que vai ajudá-lo a terminar a descida. Como em uma novela do Manoel Carlos, com bossa nova ao fundo e passeio pelo Leblon, a vida pode ser "açucaradamente" inesperada. Para outros, ela é mais como filmes de Almodóvar, uma sucessão de eventos bizarros.
Como em um jogo cafona no qual é necessário abrir a porta certa para ganhar uma geladeira ou em um daqueles shows de televisão em que se opta por um prêmio dizendo sim ou não pra trocas, com um fone de ouvido, sem saber o que se escolhe de verdade, nunca é possível saber a opção certa ou o que havia na porta que permaneceu fechada.
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