Nem batida de carro, nem queda de moto. O que matou Cleomar no trânsito foi o roubo de picolé...
Picolés espalhados pelo esfalto, sob pleno sol das 11h, em uma rua movimentada de São Paulo derretiam enquanto a vida de Cleomar se esvaia. Cleomar, estatelado no chão, não teve tempo de se arrepender. A vida dele começou a terminar quando Cleomar viu o caminhão carregado de sorvete. Encheu os olhos de desejo. Em um impulso de moleque, pegou a caixa inteirinha.
Correu empolgado, igual menino quando toca a campainha. Havia um carro no meio do caminho, que acertou Cleomar em cheio. Os picolés voaram. O motorista do caminhão de sorvete assistiu a tudo, estarrecido. Sequer deu tempo de reclamar. O motorista do carro desceu desesperado. Sem entender, olhou a cena: um homem no chão, sangue e resto de picolé. Uma moça passava pela calçada, olhou de rabo de olho, mas seguiu. Uma criança, assustada, perguntou à mãe o porquê do desperdício de picolé.
Cleomar ia para casa. No caminho, viu o caminhão. Ao lado do irmão, decidiu roubar uma caixa, uma caixa inteira, cheia de picolés Kibon. Se comprasse no mercado, pagaria entre R$ 1,50 e R$ 4 em cada unidade, a depender do sabor. Um pacote inteiro deve ter 20 ou 30 unidades, quem sabe pouco mais. Suponhamos que Cleomar, em sua última aventura na vida, tenha roubado o equivalente a R$ 80 ou R$ 120.
A imprensa chegou. O povo da reportagem queria entender o quiprocó. Saiu nos jornais: Cleomar Batista de Sousa, 30 anos, costureiro, morto ao roubar sorvete. O cúmplice de Cleomar na empreitada, o irmão, se apegou mais aos picolés do que à família. Catou alguns do chão e correu, deixando para trás Cleomar, já sem vida. Teve medo de ser pego, enquadrado por roubo. Tentaram socorrer Cleomar. Ele não resistiu. A vida segue, exatamente como ela é, só não para Cleomar. Como diria Nelson Rodrigues, "sem sorte não se chupa nem um Chicabon".
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