Teodoro Freire, mais conhecido como Seu Teodoro do Bumba-meu-boi, é movido a felicidade. Com o corpo frágil e já castigado pelo tempo, ele sorri quase o tempo todo. Tristeza só entra em casa quando o time do coração, Flamengo, perde. Hoje (quarta-feira) o riso de Seu Teodoro está garantido. Esse importante personagem da cultura brasiliense completa 91 anos, com grande comemoração na cidade que escolheu para viver, Sobradinho (Ver Programação). Virão atrações do Maranhão e de todo o Distrito Federal para homenagear a vida de Seu Teodoro.
Ao trazer a mais tradicional manifestação folclórica de sua terra natal, o Maranhão, para Brasília, o senhor de olhos miúdos e bigode vasto entrou para o calendário oficial da cultura na capital do país. Há 48 anos, ajuda a deixar Brasília com mais cara de Brasil. Todo ano, depois do mês de julho, é hora de brincar o boi, em Sobradinho. Esse ano, a folia ocorreu em agosto. A história de pai Francisco e Catirina é contada com humor teatral. A moça está grávida, com desejo de comer língua de boi. Francisco mata o animal.
O preço para satisfazer os desejos de Catirina é alto. Francisco vai preso. Só ganha a liberdade quando o boi ressuscita, com intervenção de feiticeiros. A trama é embalada por música regional, roupas vibrantes e pela empolgação de quem se propõe a representar. Nesse aniversário, Seu Teodoro terá uma celebração a seus moldes, cheia de cores, danças e risos. Enquanto assistir ao espetáculo, vai se lembrar da infância no interior, em São Vicente de Férrea (MA). “Ver o boi era a única diversão. Mas na festa dava briga. Eu era menino e minha mãe não deixava eu assistir.
Então, eu fugia de casa meia-noite”, lembrou.
Antes de viver em Brasília, Teodoro morou no Rio de Janeiro. Lá, apaixonou-se pela escola de samba Mangueira e aprimorou o amor pelo Flamengo. A ponto de batizar um dos filhos como Tauá, em homenagem a uma ilha do Maranhão, e dar-lhe o segundo nome igual ao do clube rubro-negro. “Flamengo (o time) é diferente dos outros. Tem felicidade demais”, justificou. Hoje, guarda em casa bandeira do clube na parede da sala. Estendeu também uma do Maranhão. “Só não achei bandeira grande da Mangueira. Já subi até o morro, mas não achei”, disse.
Trazer o boi “na mala” quando mudou-se para Brasília, em 1962, foi uma forma de manter a lembrança viva. Mais do que isso, a forma que Seu Teodoro encontrou de não se distanciar de si mesmo. Repassou o gosto pela cultura à família inteira. O maranhense aprendeu a ler e a escrever. Mas não se aprofundou nos estudos, por falta de oportunidade. Teve de trabalhar desde sempre. “Eu fiz de tudo. Macetei pilão, trabalhei em oficina. Não sobrou tempo. Eu queria ter sido militar. Mas não reclamo. Alguém como eu ter todas essas honras em Brasília, quem diria?”, refletiu.
Seu Teodoro diz ter realizado seus sonhos mais importantes. “Podia não existir morte. Quando a idade veio chegando, eu só tinha medo de uma coisa: do boi acabar. Agora, meu filho mais moço assumiu a festa. Eu quero mais. Mas se não der, estou pronto para fazer a viagem”, disse. Apesar de tentar se resignar, o maranhense espera viver muitos anos. Para tomar café da manhã com farinha d’água e comer cozido de boi com quiabo e maxixe. E também para dar atenção e carinho a sua companheira inseparável, Maria José, 78 anos, uma piauiense que aprendeu até a bordar roupa do boi para agradar ao marido.
Teodoro acorda bem cedo. Antes das complicações de saúde com um enfisema pulmonar — agora ele precisa de tubo de oxigênio para respirar — ele saía pouco depois das 6h de casa, diariamente. Ia à Catedral para rezar e depois à UnB, seu antigo local de trabalho. Lá, tomava um café com os amigos e conversava amenidades.
Toda semana, aparecia no Congresso Nacional para visitar os gabinetes de deputados e senadores do Maranhão, entre eles José Sarney, por quem nutre admiração. Seu Teodoro fala com paixão sobre esses temas. Não sabe gostar pouco. Se empolga tanto que até falta o ar. Melhor encurtar o assunto e guardar o fôlego para a festa de mais tarde.
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