No meu último dia de trabalho como estagiária no Correio Braziliense, eu não chorei. Estavam me tirando tudo o que eu mais queria na vida, naquele momento. Mas eu não derramei nenhuma lagrimazinha. No primeiro momento, eu pensei que não tinha chorado porque não sabia a falta que aquilo ia me fazer.
Depois eu percebi que eu não chorei porque entrei no jornal como um bebê chorão e sai como uma adolescente cheia de vontade de ter força, embora já fosse uma adulta da casca meio grossa.
Pisaram em mim muitas vezes e com a massa que ficou no chão eu construi uma pessoa nova, dura de derrubar.
Quando eu me candidatei a uma vaga como estagiária do Correio, nenhum dos chefes me deu muita atenção, embora eu tenha trabalhado duas semanas de graça para provar que eu realmente queria aquela oportunidade.
Mesmo assim, eu não desisti, porque a redação parecia muito maior e mais iluminada do que realmente era, mas eu sempre soube que era o melhor lugar do mundo. Durante dois meses, eu liguei quase todos os dias para pertubar quem escolhia os estagiários. Deu certo. Venci pelo cansaço. O estágio acabou, veio até um emprego novo, carteira assinada. Não ganho rios de dinheiro, mas já subi mais um degrau na escala dos bem sucedidos. Minha conta bancária está mais gorda, mas meu saquinho de felicidade está um pouco mais vazio.
Sinto falta dos colegas, verdadeiros professores. Só de vê-los trabalhar já aprendia um monte de coisa boa e útil. Sinto muita falta de ver essas pessoas me mostrando como se faz a coisa. Mas saudade saudade mesmo eu tenho de botar o pé na rua. Durante um ano eu sonhei com o dia que assinaria uma matéria no Correio. Dizem que os jornais impressos estão para morrer. Se isso acontecer, eu me jogo na cova junto.
Não sei bem porque, mas ver as letrinhas no papel, mesmo quando eu assinava como Da Redação, era uma coisa que me deixava cheia de orgulho. E daí que ninguém sabia que eu tinha feito? Eu sabia, a questão nunca foi vaidade. E sabia também que meu editor, quase sempre, não havia mudado uma vírgula do que eu tinha escrevido. Esse era meu prêmio.
Como os médicos que salvam vidas, como os arquitetos e engenheiros que projetam prédios que não caem, como os pedreiros que colam os tijolos uns nos outros bem direitinho, como os administradores que têm mania de gerenciar tudo nos mínimos detalhes, eu me sentia cumprindo meu papel no mundo, sendo porta voz da vida alheia e principalmente dos problemas dos outros.
A minha cadeira ficava no cantinho mais cantinho da redação, mas para mim era como o lugar da janelinha dentro do avião é para as crianças que voam em um pássaro de ferro pela primeira vez. Eu era insignificante, as pessoas erravam o meu nome, mas eu adorava todos os dias.
Sai de lá como alguém que enterra um parente muito amado e não abre o berreiro, mas dias depois cai na real. Porque é na vida do dia seguinte, totalmente diferente da do dia anterior, que a gente sente a falta, a saudade e o mundo cai. Estou no banco de reservas e não paro de me perguntar: quando é que o jogo de verdade vai começar?
2 comentários:
às vezes nem tudo o que almejamos é o melhor naquele momento. como sempre me disseram (e eu, teimosa, duvidava): paciência é uma virtude.
acha que o jogo ainda não começou? engano seu. os dados já estão rolando há muito tempo...
Ouvi dizer que já mudou. O seu blog merece um texto novo! :D
:*
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