havia um buraco no centro do mundo. sentado numa pedra, o homem observava o turbilhão como se não fizesse parte dele. para a cratera escura eram atraídas todas as coisas boas.
por mais que houvesse energia nos movimentos, nem todas as braçadas e pernadas de todos os seres humanos juntos pareciam capazes de conter aquela força tão estupidamente natural.
era o homem e o mar, cada um no seu espaço, um dentro do outro, disputando um pedaço de vida que não era de ninguém. o homem e o mar: uma disputa desleal, uma metáfora quase burra, para falar de coisas ligeiras.
é como quando as botas brilham mais que os olhos. quando a cabeça é dura demais para deixar o coração amolecer e devorar entre um batimento e outro toda a consistência da razão.
"o mar mora dentro de mim e eu moro no mar. e eu acho que ele está cansado, quer me afogar, para me expulsar", pensou o homem.
a vida é assim, em cada pedaço de água, há um pouco de ar. "mas quando entra no pulmão não dá para respirar". sem lugar garantido no mundo, ele deixou de moléstia e, para não ser engolido, foi logo trabalhar.
Um comentário:
Realmenate somo sempre metade mar, metade terra. Como em um ciclo vicioso a vida nos leva sempre para o raso e depois para o fundo, para terr firme e para o meio do mar. É a força das marés influenciando nossas trajetórias - algo que pode até parecer natural, mas que não significa que somos obrigados a aceitar o caminho que as correntes nos forçam, é preciso ter braço para nadar sempre na direção oposta, ou conseguir fazer o próprio caminho.
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