Dói quando a unha quebra, quando as costas travam e os cabelos se vão com a água do banho. Tanto faz. Já não me lembro se o que penso foi dito agora ou dois meses atrás. Nada do que é meu me pertence, nem o cheiro, os dedos, nem os anéis, tampouco o esmalte, os dentes separados, a cor dos cachos ou o tom do sorriso. Esses dias, comprei um sapato 34, para o meu pé 36.
Enquanto isso, neva em Nova Iorque, onde gente que não sou eu patina feliz. Acabam as Filipinas, a Tailândia não fica mais perto, Veneza afunda, tulipas brotam na Holanda, mães morrem e aqui alguém faz um bebê. Sobram menos dias, números roubados do calendário, voltas dos ponteiros que ninguém checou, o filme que deixei para amanhã, o gosto que não senti e o livro que não escrevi.
Filha do tempo morto, herdo dele rugas na testa, previstas por alguém do passado. A tristeza ou qualquer tensão cavam suas marcas. E eu que queria ser para sempre já nem sei com que letra se escreve amor. E eu sou só fome por dentro, desejo de vivo em terra que de tanto ser de todo mundo, não é de ninguém. Por fim, de tanto me ver nos seu olhos, me enxergo azul.
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