Por Leilane Menezes
A II Bienal Brasileira de Design atraiu mais de 38 mil visitantes ao Museu Nacional, desde a abertura, em 8 de outubro, até ontem. O número de público superou a expectativa dos organizadores e ultrapassou as 35 mil pessoas que passaram pela primeira edição do evento, no Edifício Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. "Há uma vida forte de design em Brasília. Pouca gente sabia disso. A idéia de um eixo cultural movimentado principalmente entre Rio de Janeiro e São Paulo começa a ser desconstruída", constatou o curador da mostra, Fábio Magalhães. Hoje é o último dia para ir até a bienal e conhecer as mais de mil obras de 400 artistas expostas no museu, das 9h às 18h30, com entrada franca.
Durante a mostra, uma parceria entre a direção do Museu Nacional e escolas públicas do Distrito Federal levou ao espaço cultural um público diferenciado. Diariamente, pelo menos uma turma de colégios das cidades mais pobres da capital da República pôde entender um pouco mais sobre o design. Na tarde de ontem, uma turma de aceleração de aprendizagem do Centro Educacional 4 de Sobradinho participou da bienal. A maioria dos 42 alunos, de 15 a 18 anos, que cursam o equivalente ao primeiro grau, estiveram pela primeira vez no museu.
Ao entrar na cúpula branca desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o ambiente desconhecido causou inquietação nos estudantes. Alguns se mostravam expansivos, mas logo revelavam a intenção de disfarçar a timidez. Todos queriam quebrar as regras e tocar nas peças. Talvez para aproximar um pouco mais a beleza dos objetos da imaginação, muitas vezes carente de estímulos como aqueles. Um escorredor de pratos feito com pentes causou espanto e admiração aos jovens. A obra idealizada pelo estudante de desenho industrial brasiliense Eduardo Borém leva o nome de Escorredor de Pratos Pente.
Em seguida, o grupo conheceu o preferido de nove em cada dez jovens visitantes da exposição: o carro FCC Adventure, protótipo da Fiat. A máquina de 167 cavalos, pensada por engenheiros brasileiros, tem design futurista e não está disponível para venda. No setor de ecodesign, as invenções chamaram a atenção pelo poder de inovação. Pedaços de madeira que seriam jogados fora transformados em poltronas de aparência confortável, alternativas funcionais para modelos de postes de energia elétrica e até uma parada de ônibus inspirada nas curvas de Brasília, de autoria de Leonardo Gava e Muriele Saude Pasini Vivian (RS), compunham o cardápio de atrações.
Naquela tarde, vista de dentro do Museu Nacional, a vida parecia mais fácil, graças ao design. O aluno Wiliam Nolasco, 17 anos, fotografa tudo com o celular. "Quero guardar as idéias e levar para casa. Quem sabe elas não me inspiram", explicou o garoto, que nunca havia visitado um museu. O estudante Pedro Henrique Costa de Jesus, 16 anos, no entanto, não conseguia se desprender da realidade. "Nossas paradas de ônibus são péssimas. Se pusessem uma dessas na rua, muita gente ia querer morar nela. Um poste desses, ia durar pouco tempo. Se não trancassem a caixa, alguém roubava todos os fios", comentou o menino, morador da periferia de Sobradinho.
A turma era guiada pelos estudantes Kenji Osamura, 23 anos, de publicidade, e Laurem Crossetti, 19 anos, de artes plásticas. A dupla se esforçava para repassar os conceitos de arte e funcionalidade. "É como pensar em um sapato que machuca o pé da gente. Alguém não pensou bem quando o projetou. O design não é enfeite", resumiu Laurem. O professor que acompanhava os estudantes, José Carlos Cruz, definiu a visita como uma experiência valiosa na vida daqueles adolescentes. É como diria o físico Albert Einstein: "A mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original".
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