sexta-feira, 24 de outubro de 2008

música lubrificante



Quando entra no palco, Beth Gibbons - a vocalista loirinha da banda inglesa Portishead - à primeira vista pode parecer sem graça, magrela e até meio corcunda. Daquelas mulheres sem tempero. Mas depois que se acomoda e solta a voz, Gibbons deixa hipnotizado, anestesiado e ereto até o homem mais impotente da platéia.

Não existe Boston Medical Group que faça o que uma música do Portishead faz. O que Beth Gibbons canta é sexo em forma de som. As vibrações saem da garganta abençoada da cantora para tocar o corpo e a alma do ouvinte como um orgasmo. Nenhuma loiraça gostosona (seja ela sueca ou não. rs) consegue ser mais sexy que a desengonçada Beth Gibbons quando ela canta Sour Times (Tempos amargos) e Glory Box (Caixa de glória). Experimente ouvir com os olhos fechados, sozinho. Portishead exige concentração. É uma experiência sexual auditiva.

É impossível não relaxar o pescoço, passar a mão entre os cabelos e sentir um arrepio do dedo do pé até o topo da cabeça. Em Glory Box, a voz meio gemida pede: "Me dê uma razão para te amar, me dê uma razão para ser uma mulher". Depois arremata com uma intimação: "E não pare de ser um homem". Nas críticas sobre música e nas rodinhas de galera cult, Portishead é classificada como trip hop. Para mim, mesmo sem nunca ter ouvido acompanhada, é fuck music da melhor qualidade. Com todo respeito.



As letras podem parecer tristes, às vezes. Um rapaz comentou em um vídeo no You Tube que "isso é trilha sonora de suicídio". Ele deve estar passando por um período de abstinência ou acaba de ser largado. Se esse for o seu caso, deixe Gibbons e os companheiros dela para amanhã (ou ano que vem, depende de quão frágil você é).

O fundo que embala o timbre de Beth Gibbons são os samples de Geoff Barrow e a guitarra de Adrian Utley. A verdade é que pouco importa o nome dos músicos. Reza a lenda que eles têm aversão à mídia. Pouca gente decora como eles se chamam, pelo menos no Brasil. Mas se toca Sour Times (Nobody looooves me, it´s true. Not like you do) até quem nunca ouviu se rende. Provavelmente porque se lembra da melhor transa ou do melhor amor que já fez na vida.

A banda nasceu em 1991. A última "novidade" havia sido Roseland NYC Live (1998), uma coletânea, com umas versões orquestradas que nunca escutei direito. O CD mais recente, Third, saiu em abril desse ano. Ainda não tive o prazer de ouvir inteiro. Conheci apenas Magic Doors e Machine Gusn. Nas duas nenhum frio na barriga. Nenhuma emoção. Nem tesão nem tristeza. A impressão que tenho é que o Portishead broxou. Como em um transa de adolescente, tão cheia de expectativas que acaba tudo sendo meio ruim.

Fico com as primeiras músicas. Na minha humilde opinião, as melhores são Sour Times (no vídeo antes do texto) e Glory Box (no meio do texto). Porém, existem versões melhores que essas, mais calmas e sem a orquestra. Mas eu não achei na internet.

ps: Eu já gostava de Portishead há anos. Mas depois de ver na internet Thom Yorke (Radiohead, tudo cabeça. ha ha) no backstage de um show cantarolando The Rip (faixa do CD novo do Portishead), percebi que se ele é fã, é porque a coisa deve ser boa mesmo. Ainda há esperança. http://br.youtube.com/watch?v=zPPH1qg8Qo4

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